Causadora
de muita controvérsia ao longo de toda a história da humanidade, a cannabis,
planta que dá origem à maconha, tem sido vista com outros olhos nas sociedades
mais evoluídas do mundo. Ora sagrada, ora maldita, a erva tem se provado
benéfica em diversos tipos de tratamentos médicos, seja com o uso do
canabidiol, substância química extraída da planta, ou do THC, princípio ativo
responsável pelo famoso “barato” que a planta traz. Até mesmo a culinária tem
aproveitado a erva, com uma série de receitas à base de canabidiol fazendo
sucesso pelo mundo.
Agora,
este crescente mercado parece pronto para chegar ao Brasil. A
Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) registrou em meados de julho
deste ano o primeiro medicamento à base de cannabis sativa no país. O
medicamento específico Mevatyl (tetraidrocanabinol (THC), 27 mg/mL + canabidiol
(CBD), 25 mg/mL) será fabricado pela GW Pharma Limited, do Reino Unido, e
distribuído no Brasil pela Beaufour Ipsen Farmacêutica, no formato spray.
Apesar
do avanço, os usuários recreativos ainda precisam esperar para comemorar – este
produto é indicado para o tratamento da “espasticidade moderada a grave
relacionada à esclerose múltipla”, mas é contraindicado para gestantes, idosos,
portadores de epilepsia ou usuários de maconha. De acordo com a nota técnica do
registro, a eficácia do medicamento foi testada em estudos clínicos com mais de
1,5 mil pacientes.
O medicamento
é permitido em outros 28 países. No Brasil, o Mevatyl será comercializado com
uma tarja preta e sua compra será condicionada à prescrição médica. A liberação
do uso do canabidiol no Brasil foi determinada pela Anvisa em 2015, depois de
uma movimentação feita por familiares de pacientes, sobretudo crianças que
apresentavam crises repetidas de convulsão.
Burocracia ainda é entrave para famílias que precisam do canabidiol
No Brasil, o acesso à cannabis
medicinal ainda é restrito. São mais de 5 mil pacientes beneficiados pela
abertura da Anvisa até o momento e cerca de 900 médicos prescritores. A Anvisa
exige três documentos para permitir o acesso aos produtos derivados da cannabis:
prescrição, relatório médico e um termo de responsabilidade, assinado tanto
pelo médico quanto pelo paciente.
O médico também precisa preencher
um formulário de solicitação no site da Anvisa e anexar outros documentos
referentes ao pedido. O processo é todo online, e a autorização chega via
e-mail para o paciente. É um processo relativamente burocrático, mas funciona. Segundo
informações de usuários, o órgão demora cerca de 15 dias para dar uma resposta.
Com a liberação em mãos, é possível comprar os produtos em sites internacionais
e encaminhar a permissão de entrada para a Receita Federal.
Multinacionais aguardam a liberação do uso recreativo de cannabis no Brasil
Recentemente, executivos da
multinacional californiana HempMeds, uma das maiores fabricantes da indústria
de maconha medicinal do mundo, estiveram reunidos a portas fechadas na sede da
subsidiária brasileira, na Zona Sul de São Paulo. Por determinação do CEO
global da companhia, Stuart Titus, que comanda a holding dona da empresa
Medical Marijuana, o objetivo do encontro foi traçar um panorama do setor no
mercado brasileiro a partir do sinal verde dado pela Anvisa para a produção e uso
medicinal e científico dos princípios ativos da controversa planta Cannabis
sativa, como o canabidiol (CBD).
A HempMeds não é a única empresa
que está empolgada com o horizonte da cannabis no mercado nacional. A Kroger,
uma gigante varejista de alimentos dos Estados Unidos, tem olhado com atenção
para o mercado nacional. A empresa venderá produtos à base de canabidiol em
suas 945 lojas espalhadas por 17 estados americanos e negocia acordo com um
distribuidor brasileiro, caso a legislação permita também o uso cosmético além
do medicinal. Espera-se que o uso culinário também seja liberado em breve. Nos
Estados Unidos, em breve será possível fazer uma refeição completa, com
hambúrguer e Coca-Cola à
base de cannabis.
Com a expectativa de suavização das
regras, os mesmos produtos oferecidos lá fora poderão ser trazidos ao país.
Entre os itens à base da erva estão cremes, bálsamos e óleos. Em território
americano, a Kroger é mais uma na lista de varejistas do país, incluindo
Walgreens, CVS, Vitamin Shoppe e GNC, que estão se abastecendo de produtos
compostos por cannabis.
No Brasil, o potencial
da cannabis é imenso. Pelos cálculos da empresa de dados NewFrontier, em
parceria com a start-up brasileira The Green Hub, o país poderia movimentar R$ 4,7
bilhões por ano com a liberação completa, inclusive para uso recreativo. É um
valor relevante, ainda mais em uma economia há anos estagnada e com baixo
crescimento. No mundo, a indústria legal deve faturar, segundo a consultoria
Brightfield Group, US$ 5,7 bilhões (R$ 20 bilhões) em 2019. Até 2022, estima-se
que pode chegar a exorbitantes US$ 22 bilhões (R$ 80 bilhões).
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