Se você ainda não viu, vale ler a sinopse e tomar cuidado com alguns spoilers – mas garanto que nenhum vai te prejudicar. Resumindo, o filme mostra a viagem de uma equipe de astronautas à procura de outros planetas para os seres humanos habitarem, pois a vida na Terra está por um fio e essa é a única solução.
Assisti Interestelar no sábado e desde então estou pensando em como escrever sobre. Antes disso, queria só compartilhar minha experiência: a sessão era 17h20, eu jurava que era 17h50; cheguei atrasado à sala, tinham pegado meu lugar (fileira do meio, comprada com dois dias de antecedência… pois é, coisa de quem mora em São Paulo); no final das contas, sentei na primeira fileira. Primeira fileira de uma sala IMAX. Eu praticamente fui para o espaço junto com o elenco.
Uma coisa é fato: o Christopher Nolan é muito, muito ambicioso. Eu já vi seus maiores filmes – Amnésia, O Grande Truque, trilogia Cavaleiro das Trevas e A Origem. Em todos eles fica extremamente visível a necessidade de criar algo imponente e grandioso, mas claro que o caminho pra chegar nesse objetivo é feito de maneiras diferentes em cada um.
E o roteiro de todos eles é complexo, com reviravoltas, ainda que também de formas diferentes. Interestelar, a julgar por essas características, se aproxima de A Origem; se aproxima também no fator mindfuck, que é mais ou menos quando um raciocínio atinge níveis impressionantes de criatividade/inteligência, a ponto de dar um bug na nossa cabeça – ou na expressão do momento: a ponto de desgraçar nossa cabeça.
Interestelar apresenta várias teorias e explicações (alguns reclamaram disso, mas não vi nenhum problema) sobre buracos negros, wormholes, planetas, física quântica, astronomia e afins e se tudo ali fosse verdade as quase 3 horas de filme seriam equivalentes a um curso completo. O mais impressionante é a percepção de tempo-espaço que domina o filme e que me deixou boquiaberto, tonto, mas no bom sentido.
Percebi que eu até me inclinava na poltrona pra prestar atenção e ficar maravilhado com as ideias e, obviamente, com as imagens, com o som e com a direção de arte em geral. Vale muito a pena ver em uma sala IMAX; a imersão é sensacional. Visualmente e sensorialmente Interestelar é impecável. Eu quis entrar na tela e na verdade tive essa impressão praticamente o tempo todo.
Em se tratando de um blockbuster norte-americano que mistura ficção científica com drama (familiar, ainda por cima), é óbvio que tem aquele clima literalmente apocalíptico e em vários momentos a pieguice toma conta, seja por meio de diálogos e frases feitas, seja pela cena com trilha sonora triste e dispensável que embala um momento comovente por si só. O filme não teria apelo para o “grande público” se não tivesse esses momentos vamos-fazer-a-galera-chorar.
Mas mesmo assim, ainda que não precise de comentários, Matthew McConaughey, sobretudo, está cada vez melhor e… sim, eu chorei em todas as cenas em que ele chorou, pelo caráter desesperador que tudo toma conta à medida que a história vai se desenrolando. Ainda que os durões tenham achado algumas cenas o ápice da cafonice (muitas realmente são), outras são bem emocionantes.
À parte disso, não acho que Interestelar seja tão irregular quanto estão divulgando por aí, embora a opulência possa ser considerada um ponto negativo. Não acho que, nesse caso, menos seja mais. O filme é fascinante e com uma proposta diferente do que eu costumo ver em longas do gênero. A duração não é um problema, porque tem tanta coisa pra acontecer que menos tempo de projeção deixaria tudo corrido e não daria pra entender direito – não que dê pra entender 100% do que acontece sem recorrer a alguns textos ou análises depois, e não que isso seja necessário também, eu mesmo não o fiz.
O segredo pra aproveitar Interestelar é não confundir o horário da sessão mergulhar de cabeça e deixar a mania de racionalização de lado pra poder entrar naquela loucura. Assim, você vai ser capaz de imergir em outra dimensão, outra realidade, outra galáxia.