O que pode ser mais infeliz e menos criativo do que brincar com a grafia da palavra “crise” para transformá-la em “crie”? Fazer isso utilizando de alguns dos piores momentos da nossa história para mostrar a criatividade como uma espécie de contraponto positivo de cada um deles. Pois foi exatamente o que tentou fazer a campanha do CCSP assinada pela Wieden+Kennedy São Paulo para promover o Festival do Clube de Criação 2021. Quem aprovou isso?
No filme divulgado é possível passear por diversos momentos perversos da história da humanidade, como Inquisição, escravidão e guerras; em contraponto com algumas das criações das mesmas épocas, como Renascimento, Blues, Bauhaus. O final ainda dá a entender que o Festival do Clube de Criação pode ser visto como o movimento de criatividade dentro da pandemia de COVID-19. Veja:
“O filme ‘Crise, Crie‘ (assista abaixo) [sic] ressalta exemplos históricos sobre como surgem movimentos transformadores em tempos conturbados: da inquisição ao Renascimento, no século XVI; da escravidão nos EUA ao blues, no século XIX; da Primeira Guerra Mundial à Escola de Arte Bauhaus, nos anos 1920; da Ku Klux Klan ao movimento Black Power, nos anos 1970; e assim por diante.”, dizia o texto publicado no site do CCSP que foi apagado, mas ainda podia ser acessado via cache do Google no momento em que escrevemos esta publicação.
A produção tem direção da Joint, com a colaboração de outros artistas 3D. O áudio foi produzido pela Satélite. Outras peças para mídia digital, como banners e displays, completam a estratégia.
O comercial obviamente gerou muita repercussão nas redes sociais, com dezenas de publicações, em sua maioria realizadas por profissionais de comunicação, criticando a relação criada pela peça.
Ku klux Klan – Panteras negras
— Informamos: Fuleco Faleceu (@Staguil) September 1, 2021
Ah que bom que um monte de gente morreu torturada pra nascer um movimento né, apenas uma reação da ação pic.twitter.com/Eco3flnPoj
pelo menos é criativo
— Lucas Rocha (@lucasrockz) September 1, 2021
né? pic.twitter.com/HtLJJNG8dc
Sério mesmo escravidão, só teve nós EUA? E ela acabou com todos cantando blues é isso??
— Do contra (@Do___Contra) September 2, 2021
Meu deus eu tô passada um tanto que nem sei o que dizer
— Roberta Balbino (@rbalbinoh) September 1, 2021
A vergonha da profissão é coisa assim @namiest @gabsgmx
— thrê (@thehereticvenus) September 2, 2021
A peça ainda foi acusada de plágio por um internauta, que postou um filme do Brooklyn Film Festival, que trabalha exatamente o mesmo conceito criativo.
E ainda é uma cópia de uma campanha que já foi feita e tb achei uóhttps://t.co/MfFiA0awhm
— Gab Melo (@gaberiles) September 2, 2021
CCSP e W+K voltam atrás
Tanto o Clube de Criação quanto a Wieden+Kennedy decidiram voltar atrás, apagaram o conteúdo divulgado e deixaram em suas redes sociais uma publicação pedindo desculpas pelo ocorrido.
“Hoje, o Clube de Criação e a Wieden+Kennedy divulgaram um novo filme em suas redes. Tão logo as reações negativas surgiram, entendemos o quão imprópria a mensagem é – por isso decidimos retirá-lo imediatamente do ar. Pedimos as mais sinceras desculpas”, diz o texto publicado pelo CCSP no Twitter.
Já a Wieden+Kennedy publicou algo bem semelhante em seu perfil no Instagram:
Mesmo assim, sobraram críticas por parte do público da rede social.
o que nos preocupa é ninguém ter percebido a gravidade da parada toda, galera. a gente é COMUNICADOR SOCIAL antes de tudo. se a vc não entende nada de sociedade, vc precisa começar a repensar a sua profissão ou a estudar urgentemente, porque o mundo tá indo de mal a pior
— LILHÃO (@lilhao_) September 1, 2021
Talvez seria o caso de vc´s pensarem em colocar uma galera mais diversa na equipe pra ficarem mais de acordo com a realidade fora do eixo Faria Lima – Vila Olímpia – Vila Madá, né galera?
— Douglas Alves (@odouglasalves) September 1, 2021
Sobre o Festival do CCSP
Inovação, tecnologia, arte, cinema, música, gastronomia e diversidade são alguns dos temas abordados pelos palestrantes do Festival do Clube de Criação. Neste ano o evento será patrocinado por Globo/ Globoplay (Premium), Google e Surreal Hotel Arts (Master), Barry Company, Bonafont, Warner Media, Alice Filmes, AlmapBBDO, David, Leo Burnett Tailor Made, MyMama, O2 Filmes, Paranoid, Piloto TV, Santeria, Wieden+Kennedy, WMcCann e Zohar Filmes (Madrinhas). Os apoios são: 20DASH e Monkeyland.
Ficha Técnica (campanha Crise, Crie):
AGÊNCIA: Wieden+Kennedy São Paulo
TÍTULO: Crise, Crie
CLIENTE: Clube de Criação
PRODUTO: Festival do Clube de Criação
DIRETORES EXECUTIVOS DE CRIAÇÃO: Eduardo Lima | Renato Simões
DIRETORES DE CRIAÇÃO: Mariana Borga | Fabiano Higashi
REDATOR: Luz Arroyo
DIRETORES DE ARTE: Will Cega | Cacá Barabás
ATENDIMENTO: Camila Hamaoui | Carolina Cavallini | Tabata Viana
PLANEJAMENTO: André Troster |
RTV: Regiani Pettinelli | Ricardo Barbin
PRODUTORA: Joint
DIRETOR DE CENA: Christian Balzano
EDIÇÃO: Christian Balzano | Eduardo Oliveira
PRODUTOR EXECUTIVO: Maurício Kazu Yamashita
COORDENAÇÃO DE PÓS-PRODUÇÃO: Mauricio Kazu Yamashita
PÓS-PRODUÇÃO: Christian Balzano | Eduardo Oliveira
3D: Christian Balzano | Vinicius Lavor | Marlos Lima | Bruno Faiotto
PRODUTORA DE SOM: Satélite Áudio
DIREÇÃO MUSICAL: Roberto Coelho | Kito Siqueira | Hurso Ambrifi | Thiago Colli
ATENDIMENTO: Fernanda Costa | Renata Schincariol | Claudio Leal
PRODUÇÃO MUSICAL: Kito Siqueira | Roberto Coelho | Hurso Ambrifi | Mike Vlcek | Thiago Colli | Charly Coombes | Koitty e Helton Oliveira
FINALIZAÇÃO: Carla Cornea | Pedro Macedo | Ian Sierra | Renan Marques
COORDENAÇÃO DE PRODUÇÃO: Dudu Missono | Giu Tavares
ASSISTENTE DE PRODUÇÃO: Renan Marques
APROVAÇÃO CLIENTE: Joanna Monteiro