A Do Bem, marca de sucos carioca que sempre foi conhecida pelo seu posicionamento mais despojado e cuidado com identidade visual, está querendo dar um passo adiante na sua relação com os consumidores. Isso porque ontem a empresa anunciou a “Máquina”. Uma pulseira inteligente que tem o intuito de promover maior qualidade de vida aos utilizadores.
A pulseira é capaz de contar passos, calcular calorias gastas, medir a distância percorrida e monitorar o sono. Tudo isso é sincronizado com um aplicativo para iOS que cataloga estas informações em forma de gráficos de fácil entendimento e ainda com a promessa de dicas para uma vida mais saudável.
A Máquina significa uma clara intenção de aumentar a participação da marca na vida do público para deixar de ser uma companhia de sucos e se tornar uma companhia que vende um estilo de vida, onde o suco é só um dos meios da prática desse ‘bem maior’.
Mas se a ideia parece pioneiramente interessante para o nosso mercado, ela derrapa em alguns princípios básicos que me levaram da excitação ao desânimo em instantes. E eu vou explicar o porque:
Um produto para cerca de 5% dos consumidores em potencial
Sério. Estamos em 2014 e eu ainda sou a obrigado a escrever que um aplicativo com foco no mercado brasileiro só está disponível para iOS. Em fevereiro um relatório informou que o iOS possuía 4,7% de participação no mercado mobile do país. No Brasil o iOS só ganha em participação do Blackberry.
Se considerarmos uma questão de público pode ser que o iPhone consiga aumentar a sua margem em relação aos concorrentes, mas o número de comentários nas redes sociais que lamentavam o lançamento de um app compatível apenas com o sistema da maçã é um forte indício de que é uma falha grande não estar disponível pelo menos para Android.
Em resposta a empresa divulgou que irá lançar até o final do ano uma versão para Android. A dúvida que fica é: será que o consumidor ainda vai querer este produto no final do ano?
Os vídeos promocionais são perturbadores
Se o link entre os dois produtos pode ser definido pelo ritmo de vida saudável, a associação ficou só no imaginário porque na apresentação o produto parece tão contrário à imagem da empresa que fica difícil tentar estabelecer uma relação entre os dois produtos.
A começar pelo nome: Máquina. As propagandas da pulseira são tudo aquilo que o suco e a marca nunca foram: chatas, sem naturalidade, imperativas, sem cor.
Essas cores, esse cara de colã subindo a escada, esse jeito de falar da atriz, essa camiseta do Einstein. Tudo isso chega a dar medo.
É um pouco curioso imaginar que em um momento em que todas as empresas de tecnologia estão caminhando para a humanização de seus produtos, inserindo-o em situações do cotidiano uma marca que é naturalmente humanizada tente ir pra um caminho tão oposto.
Se a Apple fizesse um comercial com um cara tomando suco e praticando esportes para divulgar uma pulseira seria continuação de um ponto de vista que a empresa teve o dom de explorar, mas a “Do Bem” tinha a obrigação de fazer isso. No mínimo.
Em suma…
Em defesa da empreitada ficam o preço, e a iniciativa, que são dignos de nota. Mas em meio a tantos tropeços ainda fica difícil abrir um sorrisinho à pulseira.
O design, ainda que agrade não conversa com nada. Isso porque eu nem estou considerando a versão ~marrom couro~.
Olhando o projeto como um todo não é difícil identificar as fortes referências tecnológicas em que a empresa se inspirou. Tão tecnológicas que parecem ter saído de 2001, Uma Odisseia no Espaço E já que estamos falando de Stanley Kubrick, um título talvez lhe fosse mais digno que Máquina, com todos os paradoxos que possa representar: Laranja Mecânica.
Para mais informações a respeito da pulseira você pode acessar o site oficial da Do Bem.
Dica de pauta da leitora Fernanda Barros. Envie sua dica aqui.