O mercado do Marketing de Influência tem ficado cada vez mais aquecido. Hoje as redes sociais são um elemento de grande importância para o trabalho dos novos artistas. Sejam eles músicos, criadores de conteúdo, atores, jornalistas, ex participantes de realities, etc. Com o fenômeno das redes sociais no Brasil e no mundo, os chamados creators têm ganhado cada vez mais atenção das marcas.
E quando o assunto é relação entre creators e marcas, Fátima Pissarra, CEO da Mynd é uma expert no assunto. A executiva, que já era conhecida no universo da música por conta do seu trabalho na Music2!, investe desde 2017 num trabalho ainda mais profundo nas redes sociais ao lado de grandes criadores de conteúdo. Um deles, inclusive, é sua sócia, Preta Gil.
A Mynd tem em seu casting uma infinidade de nomes, como Pabllo Vittar, Pedro Sampaio, Caio Castro, Gil do Vigor e Pocah. Por causa dos trabalhos com nomes que fizeram sucesso na última edição do BBB, a agência tem ganhado ainda mais destaque no universo da comunicação a nível nacional. Nós conversamos com Fátima sobre esse fenômeno e falamos um pouco sobre o futuro do Marketing de Influência, do cenário musical, novos negócios da Mynd e diversidade dentro do universo da Comunicação.
Hoje vocês poderiam dizer que estão mais focados em qual desses segmentos? Tem alguma coisa que vocês estão vendo crescer mais? Toda vez que eu falo de Mynd, muitas pessoas falam “é a agência dos ex-BBBs”, vocês acabaram ficando muito conhecidos por isso. Principalmente agora, com a chegada do Gil. Esse é um dos segmento que vocês têm tratado.
A gente não trata como segmento de ex-BBBs, porque a gente pega eles como creators. A gente começou a agência, a primeira pessoa que a Preta trouxe foi a Gleici [Damasceno]. A gente não tem isso de “a gente é uma agência de ex-BBBs”, acabou acontecendo que muitas pessoas tinham Mynd no perfil, né?
O Fiuk e a Camilla já eram nossos. O João assinou lá dentro, a Thaís assinou lá dentro. O Gil assinou lá dentro. Então acabaram virando todos perfis Mynd. E como todos os perfis de fofoca são Mynd também, acabou gerando esse assunto “Mynd domina”. Isso porque quem ganhou foi a Juliette, que não é Mynd.
Mas acabou se gerando esse comentário. Mas a gente começou com música. Praticamente metade do casting são cantores. Porque eu vi na época que o mundo dos cantores não era organizado na publicidade. Muitas vezes o cantor é super estourado, faz um monte de show, mas na publicidade existe muito preconceito. Assim como cantor de funk, por exemplo. Então você não podia precificar do mesmo jeito. E os empresários de cantores querem vender show, que é onde eles ganham um bom dinheiro. Então eu percebia que precisava de uma organização nessa área publicitária. Metade do casting são cantores.
A gente trabalha com todos os mais variados gêneros de artistas e de pessoas a gente tem também um monte. A gente começou a agência com a Pabllo. Então a gente colocou um pé muito forte na diversidade e também quando a gente começou a agência e começou a cuidar de diversidade, a gente falou assim: “a gente precisa ser uma agência diversa da porta pra dentro também”, então em 2017 contratamos 50% dos funcionários pretos para a gente ter uma representatividade de dentro pra fora.
Depois que estávamos com 50% pretos e LGBT (que deve ser uns 80%) a gente começou a aumentar muito o casting por ser uma agência que é também representativa nesse sentido. A única agência que gerencia volume de cantores é a gente. Pabllo, Pepita, Lia Clark, Arethuza, aí acaba que os BBBs estão dentro da agência, mas dentro dos seus grupos, né. Que são divididos pelo perfil. Mas a gente tem Cléo, a gente tem Caio Castro, a gente tem Paulinho Vilhena, Thiago Rodrigues, Lidi Lisboa, tiktokers, como a Pequena Lo, Mario Junior, Camilla Rocha. O volume de BBBs é o menor. É o que o fandom deles é uma coisa que ganha de todo mundo no final.
A gente tem acompanhado a evolução do mercado da música, com a possibilidade do streaming, a gente tem uma série de novos artistas surgindo a todo momento. E muitos dos artistas mais tradicionais acabaram ficando um pouco críticos desse novo momento da música em que você precisa ser, além de um bom músico, um bom influenciador digital; senão sua música não vai pra frente. Eu queria que você falasse um pouquinho sobre isso.
Olha, eu acredito que ainda não é dessa forma. Ainda não precisa necessariamente [estar nas redes sociais]. Porque a gente tem um país que não tem inclusão digital. Se você sai de São Paulo, na estrada não pega o celular. E você tem as rádios no país inteiro. Então ainda quem determina o sucesso, volume de show e público em show são as rádios, não é o digital. É óbvio que a gente tem o Spotify dominando o digital, Spotify, Deezer, as plataformas de streaming e até mesmo o Youtube.
Porém quem enche o show, quem enche a rua é a rádio. Porque é o que as pessoas estão ouvindo lá na cidadezinha. E também o que acontece. 80% das rádios do Brasil são rádios sertanejas, então nem que eu quisesse colocar a Luísa Sonza pra cantar em todas as rádios pops, ela só ia ser estourada se ela cantasse sertanejo. Porque o volume de rádios que existe é de sertanejo.
Então pra você entrar com propaganda de música em rádio sertaneja hoje, pra você ter uma ideia, é em torno de R$ 800 mil. Um plano pra pop é R$ 100 mil. Que é o volume de rádios que tocam pop, e que tocam música sertaneja. Então ainda quem determina o sucesso, a música que tá no inconsciente, sabe, a música que tá tocando no mercado, na loja, é a rádio.
O digital, claro, vai crescer. Talvez vá um dia igualar o rádio, porque eu não acho que a rádio vai deixar de existir ou perder a importância, eu acho que vai ter público para todo mundo. E isso vai fomentar ainda mais. É óbvio que muitos artistas muito grandes em rádio estão trabalhando no digital para também falar com esse target. Mas você tem aí Jorge e Mateus que não são nativos digitais.
O próprio Gusttavo Lima não é um influenciador digital que fica fazendo dancinha de TikTok, e são os maiores artistas do Brasil de venda de shows. Aí você tem Marília Mendonça que usa um pouco mais o digital, né. Simone e Simaria um pouco mais. Os funks usam muito o digital, e aí acabam estourando pelo digital. Então eu acho que é um mix dos dois que vai se equiparar em torno de 2 a 3 anos.
Mas também depende muito da inclusão digital. Não adianta nada se não tiver antena. Aí você vai para um discussão de poder aquisitivo no Brasil. É um business plan que espelha a condição socioeconômica.
Vocês estão inaugurando diversas frentes de negócios. E agora tem essa nova frente de negócios mais voltada para cuidar da carreira de executivos. Vocês já podem falar sobre como vai funcionar e quais são os planos nesse segmento?
A gente cuida hoje dos maiores perfis de Instagram do Brasil. Não só Instagram, TikTok também. A gente tem treinamentos contínuos dessas plataformas. A gente tem experiência. A gente tem uma área de dados dentro da Mynd, que a gente entende muito de engajamento. São muitos dados.
Muita gente me pergunta “como eu tenho engajamento?” eu sei a fórmula. Porque é uma fórmula. É algoritmo, é matemático, né. A questão é você parar e fazer o que precisa ser feito. Tem que viver disso. Então por conta disso, muita gente me pedia “Fátima, me ajuda com meu Instagram”, “me ajuda com meu Linkedin”, “me ajuda com meu posicionamento social”, porque, querendo ou não, hoje, assim como executivos julgam o influenciador com o dedo, acaba que se tornou uma forma de o executivo também mostrar o que ele tá fazendo e como ele tá construindo a carreira e tudo mais.
Diante disso a gente viu que existia uma necessidade e que com a nossa expertise seria muito mais fácil a gente trabalhar nesse sentido e ajudar, porque a gente via que não tinha pra onde mandar essas pessoas. E a gente sabe o que tem que fazer. Então aí quando o Alisson [Fernandez] falou pra mim que tinha saído do Propmark, eu contei pra ele essa ideia que eu tinha.
E eu falei “Alisson, acho que a gente tem esse segmento que está sem essa ajuda”. Sem consultoria. Tem uma lacuna gigante. A gente sabe tudo o que tem que fazer. A gente faz pra Cléo, pra Luísa Sonza, perfis do Instagram de 20 milhões de seguidores. Então eu falei pro Alisson: “não quer vir aqui pra gente abrir esse braço?”. E de eu falar com 2 amigos, e ele falar com 3 amigos, a gente fechou já 25 pessoas. E ele já está contratando um monte gente pra gente começar oficialmente de uma forma estruturada e com a velocidade que a gente atende as pessoas.
A gente tá estruturando pra fazer esse anúncio, mas a ideia é que a gente dê uma consultoria para os executivos de redes sociais e de engajamento. E também uma coisa que eu acho muito legal é: o que está acontecendo na rede social?. A gente atende um cliente de realtime e aí eu tava no grupo e eu via tudo o que mandavam que estava acontecendo em tempo real. Eu falei: gente, que informação legal.
Então assim. Quais são os top 10 assuntos do Twitter hoje, ontem, o que tá rodando? Essas coisas que são vindas do digital e que as pessoas não sabem. Eu comecei a passar para algumas amigas minhas e todo mundo “Ai, Fátima, não tem como você me mandar sempre?”. Aí a gente está desenhando essas necessidades de inserção ao digital para os executivos, dando essa consultoria.
E em junho a gente celebra o mês do orgulho LGBT e você hoje comanda uma agência com um grande número de pessoas que representam diversidade. Você pode falar um pouco mais sobre a importância disso para vocês?
Hoje você não encontra praticamente uma empresa na área de publicidade com real 50% dos colabores pretos. E também com LGBTs e uma diversidade real dentro. A gente começou isso em 2017. Roubam todos os nossos funcionários. Hoje o André [que trabalhou na Mynd] está na Ambev, a Samantha Almeida veio da Avon, ela que estruturou essa área comigo. Ela que trouxe, contratou, treinou, fez todo esse desenvolvimento e está lá no Twitter brilhando.
Então as pessoas vão [para outras empresas], mas eu fico feliz, porque a gente está melhorando o mercado como um todo. O que a gente percebeu no começo é que não tinham pessoas com experiência em publicidade. A gente tinha algumas, mas não todas. Então a gente começou a fazer um modelo meio americano de contratação, que era por skill, não por experiência.
Então a gente pegou uma pessoa que trabalhou muito com crise em alguma área. Então eu trouxe pra cá porque a gente também tem crise. A gente pegou uma pessoa muito organizada que mexia com o excel, aí eu trouxe para o atendimento. Então a gente trouxe expertises da pessoa como profissional, que é como eu acredito que deveria ser. Aqui no Brasil se começou a trabalhar na farmácia, você morre na farmácia. E não deveria. O vendedor ele vende remédio, vende carro, vende qualquer coisa.
Então a gente foi nesse modelo e a gente conseguiu um sucesso maior. Eu contratei uma pessoa de RH preta para ajudar também. É um trabalho que é no dia-a-dia, mas que a gente conseguiu fazer muito bem feito. Hoje já é muito consolidado. É um braço muito forte.
E uma coisa interessante é que a gente não trabalha as pessoas como ativistas, eles são creators. Você pega a Pequena Lo, ela não é uma ativista, ela é uma creator que é PCD, né. O Yuri Marçal é um humorista que é preto.
Essa campanha que a gente desenvolveu junto com a Amstel foi exatamente isso que a Pepita falou. A gente tem um programa que faz imersão de marcas no mercado de diversidade. Pra entender um pouco mais esses estigmas, nem é só sobre marcas, mas é sobre falta de respeito, sabe? Que as pessoas vivem no dia-a-dia.
Nessas reuniões, a gente fez uma reunião de Amstel com a Pepita, que a Pepita falou isso: “Por que eu não posso estar numa propaganda de cerveja?” como uma pessoa que tem seguidores, que é porta-voz, que fala com muitas pessoas… “Por que eu não posso ser vista como uma pessoa numa propaganda de cerveja?”. “Eu só tenho que falar de causa? Não. Eu também sou uma pessoa que influencia”.
E aí eles mudaram a campanha e a campanha foi toda com Pepita, Pabllo, Mateus Carrilho, e tem essa representatividade, que é muito legal. Entrando Amstel, e entrando o Gil com o Santander eu acredito que é um marco para a publicidade. Quando você ia falar que ia por o Gil? É essa representatividade, de todo mundo se enxergar como capaz e como possível. Sendo LGBT, ou sendo preto, ou sendo qualquer coisa. E aí a gente vai mudando esse cenário de homofobia e de racismo um pouquinho mais.
E os clientes têm chegado com essa demanda de diversidade?
Muitos clientes chegam, mas o que a gente faz é esse treinamento para eles entenderem onde eles estão. Porque não é só contratar pra usar uma vez, né. É entender que é uma questão de respeito. Não é cumprir cota. É uma representatividade do país, da população, você fala com todas essas audiências.
Então a gente faz muito esse treinamento e desenvolve campanhas que tenham sempre essa representatividade. Se algum cliente fala “não”, a gente tenta sempre mudar. A gente tenta trazer a pessoa pra falar também. Porque a gente acha que é muito falta de conhecimento. Então a gente tenta disseminar e aumentar esse conhecimento.