O tanto de coisa que já saiu na mídia sobre Boyhood não está escrito. Antes de assistir ao filme (o que fiz no último sábado), e até agora, eu li apenas textos genéricos, que contavam a sinopse, o processo de produção e etc. Quando eu sinto vontade de escrever sobre um filme eu procuro não ler críticas antes, sejam elas positivas ou negativas, porque acho que pode me influenciar. Mas logo que acabar de escrever esse texto aqui vou correndo ver o que o Pablo Villaça achou.
A saber: Boyhood demorou 12 anos pra ficar pronto, pois o diretor (Richard Linklater, da sen-sa-ci-o-nal trilogia Antes do Amanhecer, Antes do Pôr-do-Sol e Antes da Meia Noite) trabalhou com os mesmos atores e filmava poucos dias a cada ano, justamente para conferir ao filme um quê inacreditável de realidade.
Boyhood mostra a vida de Mason (Ellar Coltrane) e sua família: as etapas da vida, as decepções, o amadurecimento… Enfim, a vida como ela é, sem rodeios. É simples, mas não simplista, vale dizer. Já vale ir ao cinema assistir – ok, podem baixar – pelo tempo de produção e pela naturalidade do filme. Ainda que tudo gire em torno de Mason, ele pouco fala, pois é extremamente introspectivo – em parte porque é de sua natureza (já logo me identifiquei) e em parte por conta de tudo que ele vivencia dentro de casa desde muito pequeno. As 2h45 passam como se fossem 10 minutos, porque tudo corre tão bem que parece que estamos nos vendo na tela; é impossível não se identificar pelo menos com uma cena. Pode-se dizer também, com um viés mais poético ou desesperador, que o filme passa tão rápido quanto a nossa vida.
O que não tem como deixar de lado ao falar de Boyhood é a contextualização histórica e cultural. Por ter demorado 12 anos pra ficar pronto, aqueles velhos problemas para ambientar um filme sob determinada época sem parecer artificial foram completamente descartados, pois filmando no próprio ano em que se passa a história, não se tem esse trabalho. E o mais importante: contribui para a naturalidade da trama. Quando vemos a cena em que a irmã de Mason assiste ao clipe de Telephone, da Lady Gaga (2010), não imaginamos que Linklater buscou referências sobre o ano de 2010; ele só filmou o que estava fazendo sucesso naquele momento, assim como a cena em que os personagens vão ao lançamento de um livro da saga Harry Potter. Outro exemplo, mais com a cara aqui do Geek, é quando Mason está na escola brincando num daqueles iMacs coloridos (1998-2003). Mesma coisa sobre a trilha sonora, que já começa com Yellow, do Coldplay, chega aos descolados do Phoenix e termina com Arcade Fire.
Pode parecer pessoal demais, mas achei que o filme todo é carregado de melancolia e existencialismo. Embora seja repleto de cenas e acontecimentos normais e alegres na vida de qualquer pessoa, o que predomina é aquela atmosfera de “o que querem que eu seja na vida?” versus “o que eu realmente quero da minha vida?” e toda essa pressão é mostrada principalmente em cima do protagonista – embora sua mãe também passe por isso o tempo todo, com a responsabilidade extra de ter uma família para sustentar.
Quem tem seus 20 e poucos anos vai entender bem o que é essa pressão. Quem tem mais, vai se lembrar de quando passou por todo tipo de crise: obrigações banais da infância, pressões da adolescência (ser cool, arrumar um par, beber, fumar, perder a virgindade, se enturmar, arrumar um trabalho) e a responsabilidade de sair de casa ao entrar para a universidade. Quem tem menos de 20 e poucos anos vai ver mais ou menos como a vida segue até que se chegue à universidade (quando o filme acaba). Eu saí da sessão extasiado, mas pensando tanto na vida que antes de voltar pra casa dei uma volta ali pelo cinema antes de entrar na estação de metrô mais próxima. Tamanho o peso que Boyhood tem ao mostrar a nossa existência de forma tão sincera e, exatamente por isso, certeira.