Integrante de uma família que está ha mais de 85 anos fazendo doces, a Docile é hoje uma das principais marcas do segmento no Brasil, exportando para mais de 60 países. Mesmo diante de um cenário de isolamento social e incertezas econômicas, a companhia vem registrando recordes de vendas dentro e fora do e-commerce. Isso é, claro, resultado de um trabalho muito próximo dos consumidores.
E foi justamente pra entender um pouco melhor um pouco dessa estratégia que conversamos com Alexandre Heineck, sócio-diretor responsável pela exportação da Docile. No nosso papo nós falamos da importância do e-commerce, dos produtos licenciados e também do impacto que o rebranding da companhia trouxe nas vendas. Confira:
GKPB: Nesses 30 anos de história, como vocês enxergam a evolução da Docile?
A gente tá há 85 anos fazendo doce. Desde o avô. A Docile está fazendo 30 anos neste ano. A nossa história já é de muitas gerações. Eu sou a terceira geração do doce. A primeira na Docile, junto com os irmãos. Mas a gente sempre esteve muito aberto para aprender, porque tem mais para fazer do que feito.
O nosso grande mote sempre foi produzir algo que trouxesse satisfação para todas as partes envolvidas, né. E quando tu faz um confeito, uma guloseima, ou um candy, como nós fazemos, naturalmente tu vê na manifestação das pessoas a alegria, né. Então eu acho que isso não vai mudar nunca, né. Essa questão da indulgência.
Quando a gente procura uma guloseima, a gente procura um momento de prazer, de alegria, de compartilhamento. Então acho que essa questão poderosa do doce não mudou em 85 anos. Porque isso a gente vê espelhado no rosto das crianças, dos jovens, dos adultos, dos mais idosos, tu vê essa alegria em receber um doce. Em saborear um doce. Acho que isso não mudou ao longo dos anos.
Obviamente que a gente desenvolveu novas formulações, produtos para diferentes públicos. E dentro desses públicos têm exigências distintas. Então um quer mais ácido, outro menos ácido; um quer mais doce, outro menos doce. Mais aromas, menos aromas. A busca por aromas naturais, corantes naturais. Tá vindo uma tendência, essa geração mais nova e mais atenta às questões de saudabilidade. Então também vamos ter opções para este público aí. Até mesmo sem açúcar.
GKPB: Vocês tiveram o maior faturamento da história no ano passado. E nesse ano teve também um crescimento enorme do e-commerce. Como que vocês se prepararam para este momento? O que mudou durante este período de isolamento social? Vocês chegaram a fazer adaptações internas?
A gente não saiu impune disso aí, né. No início foram momentos de muitas dores, né. Porque o mercado se fechou. A gente ficou isolados em casa. Nós tivemos nossas operações suspensas. Todo o Brasil parou. O mundo parou. Até porque havia uma grande interrogação do quão impactante seria todo esse tema do COVID, né? Mas felizmente a gente teve capacidade e conseguimos suportar esse momento bem duro (março, abril), mais especificamente, mas depois a gente conseguiu através de trabalhos de toda a organização, montamos planos para buscar ora canais que ainda não existiam e nesse trabalho também houve o desenvolvimento maior do e-commerce.
Nós já tínhamos ele há alguns anos, desde 2017, mas se intensificou muito a venda pelo e-commerce. Então hoje é um canal dentre todos esses canais, de reacessar esses diferentes públicos, é um canal que começa a tomar uma importância e uma relevância para a gente se atentar e atender a alguns públicos que ora não acessavam nossos produtos.
Então desde o ano passado a gente teve a felicidade de um dos meses em meio a todo esse cenário bem conturbado, a gente teve um faturamento recorde. Espero que neste ano a gente também consiga, nestes meses, que são normalmente os meses mais altos, de maio, junho, julho, esse semestre quase do meio do ano, são os principais meses do nosso negócio. Espero que a gente tenha alegrias e consiga adoçar outros tantos.
GKPB: Você acha que o aperfeiçoamento e um foco maior no e-commerce é o maior aprendizado de vocês durante este período de isolamento social?
É, eu acho que é um dos maiores aprendizados. De a gente ter outros canais de vendas, não só os canais convencionais e tradicionais de venda via distribuidores, mercadistas, via cash and carry [atacado varejista], esse que o consumidor costumeiramente acessa. Ele é o canal alternativo, para um consumidor que não conseguiu sair de casa, ele hoje consegue receber os produtos do gosto dele. Então a Docile está atenta a isso e é um canal que a gente tem que desenvolver, sem sombras de dúvida, cada vez mais. Não é mais o que nós queremos oferecer para o público, é como o público quer ser atendido, como o consumidor quer ser atendido. Então essa multicanalidade faz parte da nossa ida para o mercado e o e-commerce tem que fazer parte cada vez mais do nosso negócio como um canal importante de negócio.
GKPB: Nós acompanhamos o rebranding que vocês fizeram há dois anos com o pessoal do Estúdio Narita Design, e quando saiu foi muito comentado. Vocês sentiram o impacto disso de alguma forma nas vendas? No reconhecimento de marca? Como foi essa mudança para vocês?
Sim, foi um importante divisor de águas. Nós sempre fomos uma empresa bastante voltada para do portão para dentro. Nós temos uma indústria no estado da arte. Nós temos talvez uma das melhores indústrias do nosso segmento que existe. Nós temos equipamentos dos mais modernos existentes, mas faltava essa ida para o mercado com uma roupagem, uma identidade visual muito mais contemporânea, mais atualizada.
E isso o Narita, a partir do momento em que Ricardo, meu irmão, que cuida dessa parte de marcas, acessou o Narita falou sobre a nossa história, teve um encaixe muito grande. Eles se identificaram muito com a nossa história, com a história do Narita, com as coisas que ele gosta de trabalhar e ele se envolveu particularmente nesse projeto.
Então saiu uma coisa muito linda visualmente e que ela conseguiu traduzir toda a nossa história na produção dos doces. Nos deixou muito felizes. Graficamente ela está superbonita, a identidade visual, e com isso também carregou toda a parte de novas embalagens em uma roupagem nova, que condizia muito mais com as guloseimas que a gente produz hoje. Então nos deixou muito feliz e isso repercutiu em vendas.
O momento que a gente atravessou de adversidade felizmente não foram momentos tão agressivos para nós, no momento do início da pandemia, mas hoje a gente consegue desfrutar dessa repaginada que nós demos em toda a nossa parte visual da empresa.
GKPB: Os principais concorrentes de vocês são empresas que vieram de fora. Vocês são totalmente brasileiros, têm muita história aqui no Brasil e o mercado brasileiro é um mercado repleto de especificidades. Vocês acham que ser brasileiros num mercado como o Brasil é uma vantagem para vocês neste segmento?
Eu acredito que sim. Nós temos exportações para mais de 60 países, então entendemos relativamente bem das exigências do público global, mas o nosso Brasil é nossa grande fortaleza. Então este vínculo com o brasileiro, de ser uma empresa genuinamente 100% brasileira nos dá uma força junto ao público.
A gente divulga isso, acho que é um prêmio importante, porque todo o desenvolvimento, toda a riqueza que é gerada fica aqui. Ela não vai para a Espanha, ela não vai para a Alemanha, ela fica aqui. Fortalecendo as nossas pessoas. A gente quer trazer divisas do mundo para cá, não levar nossas divisas para o mundo.
A gente quer tornar o Brasil ainda mais forte, ainda melhor. Tem o desafio de a gente competir com esses globais, mas nós temos aqui na Docile gente muito capaz e muito competente para conseguir fazer coisas excelentes.
GKPB: Vocês recentemente fizeram uma parceria para licenciamento de produtos Disney. A gente vê diversas empresas deste segmento investindo no universo geek, porque é um público totalmente atrelado a este consumo da indulgência. Como vocês enxergam este público?
Indulgência é um pilar forte para este nosso segmento de candies. Nossa história mostra essa atenção aos diversos públicos. Somos uma empresa superdemocrática e para diferentes públicos, diferentes faixas etárias, poderes aquisitivos, então o público geek também se já não consome nossos produtos, a gente tem que estar cada vez mais atentos.
Ele é um público representativo, exigente e inteligente. Além de embalagens boas, este público quer sabor, texturas, cor. Um conjunto de atributos importantes. A gente consegue levar tudo isso o que ele quer.
Recentemente fomos licenciados como fabricantes de produtos Disney. A Disney é uma das empresas mais exigentes em termos de licenciamentos. Há cerca de 10, 12 anos atrás nós tivemos licenciamento de Mickey e os amigos do Mickey aqui no Brasil, High School Musical, e também num passado mais remoto ainda Angélica, então essa questão de estarmos preparados atentos a estes públicos é o nosso negócio.
Uma mostra disso é que a gente exporta para esta diversidade de países. E o Brasil em sua diversidade de consumo e de culturas, é muito exigente. Então a gente tem que estar sempre manobrando. E isso nos deixa felizes. Um parecer de que as vezes podem ser não tão bons. Isso mexe com toda a estrutura para nós entregarmos o melhor e surpreendermos.
Não só em termos de design de embalagens, mas nós temos que confirmar isso em sabor, textura, cor, tudo isso que também compõe um produto. Além de um serviço e atender públicos diversos.
GKPB: A gente fala muito de novidades no GKPB. Estamos sempre falando de novidades de Docile, queria saber se você pode contar pra gente o que está nos planos de vocês para os próximos meses.
Esse é o ano de maior investimento da nossa história. Estamos em fase de transformação. A Docile está em ebulição, trazendo novos equipamentos e isso em cerca de 60, 60 dias vai para o mercado. Então vamos apresentar novidades em cima de marshmallow, balas de gelatina, bala de goma, dos canudinhos e das fitinhas. Sempre novidades nessas quatro categorias em que a gente está se fortalecendo.
É um ano especial, de celebração dos nossos 30 anos, mas que vem acompanhado mês a mês de novidades. Lançamos recentemente o canudinho big do unicórnio, agora lançamos do dinossauro. Tudo isso daí é um portifólio que vem, gradativamente, se adequando a esses públicos. Ora infantil, ora mais adulto, ora mais aquele que vai para o canal farma, logo, logo vamos estar lançando algumas coisas para o canal farma. Essa é a nossa vida.
A gente está sempre aqui querendo se reinventar, se transformar, para atender a esses públicos que a gente quer alcançar.