O número de denúncias de exploração sexual infantil recebidas pela SaferNet aumentou 114% desde que o influenciador Felca denunciou como criadores de conteúdo ganham dinheiro explorando vídeos nas redes sociais com conteúdo de teor sexual envolvendo crianças e adolescentes.
A medição foi realizada na última quarta-feira, 12, no sistema de denúncias da ONG, que mantém há quase 20 anos o Canal Nacional de Denúncias de Crimes e Violações a Direitos Humanos na Web. Entre 6 de agosto, data em que o vídeo foi postado, e as 0h da terça-feira, 12, a SaferNet recebeu 1651 denúncias. No mesmo período do ano passado, o hotline da organização havia recebido 770 denúncias, um aumento de 114%.
Para efeito de comparação, a SaferNet levantou os números do primeiro semestre de 2025 (28.344 denúncias) em relação ao primeiro semestre de 2024 (23.799 denúncias). O aumento de “exploração infantil” entre um ano e outro havia sido, portanto, de apenas 19%, considerado normal após a queda de 26% registrada em 2024.
Denúncias únicas são as denúncias que a SaferNet recebe de forma anônima de usuários da internet e disponibiliza ao Ministério Público Federal, após a filtragem que realiza. Nessa avaliação, a empresa coleta evidências, exclui os links repetidos e agrupa os comentários recebidos com os links. A análise do mérito (do teor dos links denunciados e se há indício de crime) é feita por técnicos e analistas do MPF, órgão federal com atribuição legal para iniciar e conduzir investigações cíveis e criminais em temas de direitos humanos.
Segundo Thiago Tavares, presidente da SaferNet, esse crescimento de denúncias de imagens de abuso de exploração sexual infantil na internet em agosto é efeito do vídeo viral de Felca. “Há anos, o tema do abuso sexual infantil online não gerava um debate tão grande na sociedade brasileira, e a repercussão do vídeo, obviamente, estimulou as pessoas a denunciar”.
Em seu vídeo viral Adultização, Felca apontou duas questões que a SaferNet vem denunciando sistematicamente desde o ano passado: o uso do Telegram como plataforma para distribuir e vender os vídeos produtos dos abusos e exploração das crianças, e o uso por esses criminosos de acrônimos, siglas e emojis para falar desse tipo de conteúdo sem chamar atenção, tanto ao vender as imagens dos abusos, quanto para aliciar novas vítimas. É o caso, por exemplo, da sigla cp (child porn), encontrada em vários grupos de troca e venda de “pornografia infantil” e mostrada no vídeo viral do influenciador.