Nesse episódio da nossa série Os Próximos Passos by Johnnie Walker, nós conversamos com o Stelvio Mazza, da Já Fui Mandioca, uma marca que fabrica embalagens a partir da fécula de Mandioca.
Na conversa, falamos um pouco sobre os impactos do plástico no meio ambiente, da importância de se utilizar produtos realmente sustentáveis e da parceria da marca no fornecimento de copos sustentáveis. Confira!
O que é esse projeto, como ele começou e em que momento vocês estão agora?
O projeto teve início quando nós começamos a questionar o porquê de aplicações de uso imediato precisavam de um material indestrutível, como é o caso do plástico. Um exemplo, você dar um gole num copo d’água e jogar fora, ou você tomar um sorvete que vai derreter em menos de 30 minutos e você usar um pote que é indestrutível. A Já Fui Mandioca começou a atuar justamente com uma solução para este mercado.
A inspiração veio da embalagem mais perfeita que existe: a casca de uma fruta. Ela embala um produto pelo tempo necessário (nem mais nem menos, isso é importante), e quando você joga fora, na verdade não é fora. Ela é um insumo para uma nova planta, uma nova fruta. Então é exatamente isso que a gente tenta copiar com a bioembalagem da mandioca, o ciclo da natureza. E hoje nós estamos no mercado produzindo e escalando cada vez mais esse processo, que é uma tecnologia inovadora, um processo difícil de ser feito. Nós estamos justamente conseguindo não só inventar um produto, mas também levar para mais gente.
E quais tipos de produtos que vocês oferecem hoje com a Já Fui Mandioca?
Focamos em embalagens de consumo imediato, ou seja, aquelas que você vai consumir rapidamente e descartar, como pratos, copos, pote de sorvete, embalagens de delivery (que temos feito para atender o novo mercado de delivery na pandemia). Temos basicamente um portfólio para alimentos de consumo imediato.
A tecnologia possibilita expandir. Nós conseguimos fazer basicamente tudo o que isopor faz. Poderíamos até entrar no mercado de berços (um tipo de suporte para embalagens), mas hoje nosso foco é em produzir bioembalagens para alimentos de consumo imediato.
E Johnnie Walker vai utilizar copos de vocês nos eventos deles. Eu queria saber como que vocês imaginam que isso pode impactar a população e também como isso pode trazer benefícios para a Já Fui Mandioca?
O primeiro impacto imediato que gera é as pessoas olharem e falarem “nossa, um copo de mandioca?”. Esse eu acho que é o primeiro impacto, porque quando se fala em sustentabilidade normalmente são assuntos extremamente técnicos que você tem que entrar mais em detalhes para entender o que de fato é sustentável e o que de fato não é sustentabilidade. Infelizmente eu brinco que sustentabilidade virou “sutentablablabilidade” hoje em dia, né. Existem muitos produtos que quando nós falamos “biodegradável’, “compostável”… não significa muita coisa.
Por exemplo: biodegradável, o que é biodegradável? Essa mesa em que eu estou sentado aqui, de madeira, ela é biodegradável, ela só vai demorar bons anos para isso acontecer. Então eu acho que o nosso produto gera uma curiosidade das pessoas de começar a entender “poxa, espera aí, porque que isso é tão diferente e inovador?” e aí nós começamos a ter a oportunidade, como estamos tendo aqui, de explicar o que é biodegradável etc, para as pessoas começarem a entender e questionar atitudes que tenham um propósito muito ideal, mas que as vezes não são tão boas do ponto de vista técnico. Eu acho que com a parceria com Johnnie Walker as pessoas vão conseguir começar a entender o que é bom genuinamente.
Eu sempre falo que uma mudança na sociedade não vem com o lançamento de um produto. Não é “lançamos um produto e agora está tudo resolvido”, pelo contrário. Nós precisamos de toda mobilização da população, dos consumidores e, principalmente, de marcas fortes como Johnnie Walker, que dão apoio nesse tipo de causa e fala: “Nós estamos sim pensando nos próximos 200 anos, e é isso o que nós encontramos”. Eu acho que é fundamental para a população começar a ter mais acesso a isso. Para as marcas começarem a trazer mais esse tipo de buzz, esse tipo de produto. Então eu acho que os impactos são os melhores possíveis.
E uma das barreiras para conseguir entrar de uma forma efetiva dentro desse universo é que você está competindo com opções muito baratas financeiramente. Como você vê a aceitação dos consumidores em relação a isso? Você acha que eles têm ficado mais propensos a desembolsar um pouco mais por um produto que é feito de forma mais sustentável? E você acha que as empresas estão ficando mais conscientes?
Vou separar em várias respostas. A primeira coisa que eu queria dizer é que apesar de vendermos para empresas, muitas vezes as pessoas perguntam: “Como é que eu posso ajudar? Eu sou só um consumidor”. As pessoas não têm ideia do poder do consumidor final. É claro que as empresas estão buscando soluções como essas porque no final das contas tem um consumidor exigindo que as empresas sejam mais responsáveis. Um consumidor levantando a mão e falando: “olha, eu não quero mais tomar sorvete, tomar água ou receber um delivery cheio de embalagens plásticas ou que não são boas” faz as empresas se mexerem e isso faz todo o ecossistema se mexer. Então eu entendo que tudo começa do consumidor, mesmo que não vendamos diretamente para eles. É importantíssimo isso. Vocês não têm ideia do impacto que o consumidor gera para fomentar esse tipo de negócio.
Então entrando especificamente na demanda e no preço é: sim, hoje graças a Deus nós temos muita procura para isso. Cada vez mais o consumidor está mais preocupado com isso sim. E quando falamos de diferença de preço, muitas vezes ele entende que são poucos centavos. É uma grande diferença [no preço total], mas ainda são centavos, então muitas vezes o consumidor está disposto a fazer diferente. Consumir é um ato de causa. É um ato de crenças. Você é o que você come, mas você também é o que você consome. Então eu acho que cada vez mais isso está gerando demanda.
Com relação ao preço, isso é uma excelente pergunta porque a procura que temos hoje, se você pensar em escala Brasil e de outros mercados, ainda assim é uma procura de nicho. É uma procura de empresas que têm uma causa, uma preocupação ambiental, que têm consumidores que têm essa preocupação. Ainda não estamos em todos os bares e padocas da esquina. E por quê? Eu acho que temos que separar em duas vertentes. Porque nós vivemos numa bolha. Se você perguntar para mim, eu vou falar que todo mundo quer esse produto e todas as empresas querem esse tipo de coisa. Mas eu sei que é uma bolha. Que são empresas que estão um pouco mais à frente.
Agora, se nós realmente começarmos a falar em larga escala, e aí eu estou falando também de atender classes C e D em todos os estabelecimentos, aí é natural que nós vamos precisar de mais tempo para ganhar essa escala, porque vamos precisar de mais demanda. E isso é um movimento natural. Nós estamos em um momento muito semelhante ao que o plástico estava em 1920. Todo mundo sabia que aquilo era algo legal e genial, mas levou quase 100 anos para conseguir ter o preço e a escala que tem hoje. Eu entendo que é uma mudança natural. Há 100 anos atrás o plástico também não era tão barato. Então eu entendo que, quanto mais os consumidores forem exigindo, naturalmente o preço vai caindo. Porque a demanda vai aumentando. É uma questão de tempo.
Nós somos uma empresa de tecnologia, não somos uma empresa de embalagem. Estamos o tempo todo estudando formas de fazer isso, mas não é simples. Porque, imagine o seguinte: se formos construir uma cadeira, um carro, tem mil anos de tentativas, erros, acertos, especialistas… Para fazer embalagem de mandioca não tem ninguém para a gente se basear. Não dá pra ligar no Japão e falar “me dá 10 máquinas aí de embalagens de mandioca”. Não tem especialistas. Os especialistas conhecem até o ponto em que nós ainda não estamos. A partir dali ninguém sabe. É tentativa e erro. É muito isso. O ser humano tem essa coisa de errar e acertar. Nós não temos as certezas. É uma questão natural de que com o tempo esse preço baixe e aí sim nós poderemos ser mais competitivos em relação a isso. Para nós, nós não competimos com plástico e isopor. Nós achamos que não tem nada a ver uma coisa com a outra. É um fax e um celular.
Deixando muito claro que o plástico é o fax, né?
Exato. Porque se você for pensar, os dois fazem algumas coisas até que semelhantes. Mas até onde um vai e onde outro vai, são coisas diferentes. Então nós não queremos competir com o plástico. Não queremos acabar com o plástico. Nós achamos que é um movimento natural esse de as pessoas perceberem que existem alternativas melhores.
Eu queria que você falasse para a gente como que os empresários podem te encontrar. Como os consumidores podem saber mais sobre o negócio de vocês, para que eles entendam e possam conversar com as marcas e pedir para as marcas que elas invistam nesse tipo de embalagem.
É só entrar no nosso site: jafuimandioca.com.br, ou no Instagram @jafuimandioca, no Linkedin. Ter um pouquinho de paciência, porque estamos com equipe reduzida agora na pandemia, mas vamos atender a todos com o carinho necessário. Lá no site nós temos um formulário. Quanto mais explicado, mais fácil para entendermos o que as empresas estão buscando e se de fato podemos ajudar. Tem todos os nossos contatos nas mídias sociais e nos sites, é só falar conosco.
E nas redes sociais vocês postam muito conteúdo educativo, né?
Todo o nosso posicionamento vai para essa linha. Inclusive nós vamos publicar alguns artigos agora, explicando o que é um bioplástico, o que é biodegradável, o que é compostável. Sem dúvida, no @jafuimandioca nós estamos trazendo justamente conteúdos educacionais, porque acreditamos que isso é fundamental para que esse mercado cresça e as pessoas entendam cada vez mais. É só seguir a gente por lá.
É muito importante termos esse tipo de iniciativa. Ter espaço para podermos mostrar o que está sendo feito. Muitas vezes no mundo começam a aparecer coisas boas, mas isso não é distribuído. Nós sabemos a importância disso.
A mensagem principal é que por trás de um B2B sempre existe um P2P (pessoas para pessoas). Os grandes precursores de mudanças na sociedade vão ser sempre as pessoas. E por trás das empresas também existem pessoas. Qualquer pessoa tem um poder de impacto muito maior do que o que ela imagina. Não importa se é uma pessoa, um empresário. Buscar informação, buscar conhecimento, buscar novas formas de consumir, de se posicionar. É isso que vai gerar um impacto gigantesco. É o que nós estamos começando a ver na sociedade hoje em dia. Para, inclusive, que possamos ter mais 200 anos. Não tem plano B, não tem planeta B. Essa é a grande mensagem que eu posso deixar.