A primeira vez que eu cobri a CCXP foi em 2015, quando eu tinha só 24 anos e o evento nem sequer era chamado de CCXP. Lembro que na primeira vez que pisei no evento, me senti maravilhado por finalmente ter um contato próximo a ativações dos estúdios e das marcas que eu só via pela tela do celular ou do computador.
De lá pra cá, a CCXP moldou o que era ser geek no Brasil (e no mundo), surpreendeu estúdios de todos os cantos e se tornou referência do que havia de mais interessante em Brand Experience. Não à toa se tornou um dos principais eventos do calendário publicitário e viu, por anos, os anunciantes disputarem a tapas cada centímetro quadrado do seu espaço.
Tanto assédio fez com que empresários tentassem traçar o mesmo caminho, com eventos com temática geek em diversos lugares do país. Houve até quem se dispusesse a contratar toda a equipe do Brasil para realizar o festival na Alemanha e até no México pelo know-how que era algo único da CCXP. Com sua imponência, o evento deu ao Omelete&Co status de estrela, no mesmo nível das estrelas que vinham dos estúdios, e aí foi o problema. Nos últimos anos a CCXP se tornou uma experiência sofrida para muita gente entre anunciantes, imprensa, influenciadores e estúdios.
Em um momento onde todos os estúdios acreditavam depender da CCXP para ativar sua fanbase, a Netflix deu o primeiro passo rumo a um futuro mais autônomo com o lançamento do TUDUM. Ainda lá em 2020 o evento proprietário do serviço de streaming era tudo o que o público queria que a CCXP fosse, mas que sabia que não seria por motivos diversos. Principalmente financeiros.
Lembro que na época da primeira edição do TUDUM, tudo parecia muito incerto, ainda assim o formato colocava em xeque a supremacia da CCXP. O que ninguém imaginava é que no meio do caminho uma pandemia iria virar o mercado de eventos de cabeça pra baixo. A CCXP também tentou se reinventar nesse período com a CCXP Worlds, mas o evento foi um fiasco do ponto de vista de experiência de marca. A Netflix, por sua vez, voltou a dar aulas de como realizar uma experiência ainda melhor no período pandêmico com o lançamento dos seus inesquecíveis Almanaques.
Com o sucesso do TUDUM, a Disney decidiu colocar sua força com a prova com a controversa exposição Mundo Pixar. foi um caminho natural para a Disney trazer ao Brasil o seu famoso evento D23 Expo. O grande problema é que, mesmo antes de realizar a D23, a Disney já pulou fora do barco da CCXP. No ano passado, se não fosse a Warner, a CCXP não teria sequer painéis relevantes. Essa foi a opinião da maioria das pessoas que eu conversei, de influenciadores a fãs. Mas no ano passado, pelo menos, a Netflix decidiu apostar em algumas ativações próprias e em parceria com marcas, como a Fanlab.
Em 2024 não há qualquer grande investimento nem da Disney, nem da Netflix na CCXP. Dois dos maiores estúdios do mundo simplesmente ignoraram o evento. E a razão disso não é segredo pra ninguém. Com a produção de seus próprios eventos, não sobra muita grana pra bancar um espaço que, a cada nova edição, traz mais concorrentes do seu lado às custas do seu elenco.
É fato que a experiência da D23 foi absurdamente abaixo das expectativas dos fãs brasileiros. E é de conhecimento geral que, com todos seus problemas, o TUDUM continua sendo impecável do ponto de vista de gerenciamento de comunidade. A Netflix entende que o valor da sua comunidade está em poder proporcionar uma experiência única para todos, independente se o fã pode pagar por isso ou não. E isso é não só inclusivo, como fator-chave na relação do serviço de streaming com sua comunidade. Se lá em 2020 a Netflix olhava para a CCXP para ver aonde ir, hoje é a CCXP que deveria concentrar seus esforços para enxergar os caminhos que o TUDUM deve seguir.
Neste ano é a primeira vez, desde 2014, que nós não vamos realizar uma cobertura das ativações de marca da CCXP. Uma série de fatores levou a esta decisão. O tratamento dado a parte da imprensa, a baixa criatividade das marcas e dos estúdios nas ativações e brindes, a experiência sofrida nos pavilhões do São Paulo Expo; mas principal é o fato de que nós não acreditamos mais que isso é algo interessante para a nossa audiência. Ainda há estúdios importantes na CCXP, como Waner, Amazon Prime, Globo, Crunchyroll e Apple TV+, mas a CCXP não tem mais o brilho e a relevância que conquistou nos últimos anos. Se é possível recuperar, o tempo e as decisões a serem tomadas pelo Omelete&Co é que vão dizer.