Muito se falou nas redes sociais na última semana sobre o icônico comercial da Volkswagen em que Elis Regina reaparece para realizar um dueto com sua filha Maria Rita. Entre questionamentos sobre direitos de imagem, inteligência artificial, o CONAR, Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária, decidiu se manifestar e instaurar um processo ético para investigar a peça criada pela AlmapBBDO.
De acordo com matéria publicada pela jornalista Mônica Bergamo, da Folha, a representação foi aberta após o recebimento de queixa de consumidores que “questionam se é ético ou não o uso da inteligência artificial para trazer pessoa falecida de volta à vida como realizado na campanha”. O processo deve ainda analisar se herdeiros podem autorizar o uso da imagem de uma pessoa que já morreu para uma peça criada por meio de IA em cenas ficcionais.
Relembre o anúncio
O comercial em questão mostra Elis Regina dirigindo uma Kombi, enquanto sua filha Maria Rita dirige o novo ID.Buzz, veículo elétrico que chega celebrando os 70 anos da companhia. Assista:
Ainda no mesmo dia, diversos usuários das redes sociais se mostraram bastante descontentes com o anúncio. De acordo com os diversos comentários, a propaganda seria uma ofensa à memória de Elis Regina (que se posicionava ativamente contra a ditadura) e ignorava o significado da própria canção. Isso porque recentemente a empresa teria reconhecido a cumplicidade com os órgãos de repressão brasileira e destinado R$ 36,3 milhões a ex-trabalhadores e iniciativas pró-memória.
Vale lembrar que em 2014, o relatório final da Comissão Nacional da Verdade enumerou 53 empresas, estrangeiras e nacionais de portes variados, que contribuíram com a concretização do golpe de 1964.
O resultado do processo deve ser decisivo para o futuro da publicidade e dos direitos de imagem no Brasil. Caso a campanha seja condenada pelo órgão, o mercado de IA pode ser profundamente afetado já no início de seu desenvolvimento. O caso deve ser julgado em até 45 dias.
Leia a íntegra da nota do CONAR:
“O Conar abriu hoje, 10 de julho, representação ética contra a campanha ‘VW Brasil 70: O novo veio de novo’, de responsabilidade da VW do Brasil e sua agência, AlmapBBDO, motivada por queixa de consumidores.
Eles questionam se é ético ou não o uso de ferramenta tecnológica e Inteligência Artificial (IA) para trazer pessoa falecida de volta à vida como realizado na campanha, a ser examinado à luz do Código Brasileiro de Autorregulamentação Publicitária, em particular os princípios de respeitabilidade, no caso o respeito à personalidade e existência da artista, e veracidade.
Adicionalmente, questiona-se a possibilidade de tal uso causar confusão entre ficção e realidade para alguns, principalmente crianças e adolescentes.
A representação será julgada nas próximas semanas por uma das Câmaras do Conselho de Ética do Conar, garantindo-se o direito de defesa ao anunciante e sua agência. Em regra, o julgamento é efetuado cerca de 45 dias após a abertura da representação.
O Conar aceita denúncias de consumidores, assim como outras manifestações sobre a peça publicitária, bastando que sejam identificadas. Em obediência à LGPD a identidade dos denunciantes é protegida.”